Caso clínico #1 - Leucemia mieloide crônica em paciente com abandono terapêutico e leucocitose extrema
- Carlos Wallace

- 21 de set.
- 2 min de leitura
Paciente do sexo feminino, 36 anos, com diagnóstico de leucemia mieloide crônica (LMC) confirmado por BCR-ABL p210 em janeiro de 2024. Apresentou abandono do tratamento por aproximadamente 4 meses e evolução com febre, equimoses e distensão abdominal. Admitido no hospital com leucocitose maciça (WBC ≈ 300.000/µL), anemia significativa e esplenomegalia. Foi iniciada hidratação venosa, alopurinol e citoredução com hidroxiuréia.
História da doença atual
Diagnóstico de LMC em janeiro de 2024 com isoforma BCR-ABL p210. Paciente relata não ter iniciado terapia com imatinibe desde o diagnóstico por baixa adesão/abandono (≈ 1 ano e 10 meses desde o diagnóstico sem TKI). Evoluiu com cefaleia, mal-estar e dor em hipocôndrio esquerdo; procurou pronto atendimento após piora dos sintomas.
Histórico de patologias prévias o outras condições
Diabetes mellitus tipo 2.
Transtorno psiquiátrico em uso de: quetiapina, carbamazepina e clonazepam.
Alergia: dipirona (registrada).
Exame físico na admissão
Paciente alerta e orientado, hipocorado. Equimoses em membros superiores. Abdome globoso, esplenomegalia palpável ~10 cm abaixo do rebordo costal esquerdo. Sem sinais de abdome cirúrgico. Sem edema em membros inferiores.
Exames laboratoriais
Internação anterior:
BCR-ABL positivo (p210).
Mielograma compatível com Leucemia Mieloide Crônica (hipercelularidade granulocítica; 0% de blastos na amostra inicial). Cariótipo com t(9;22).
Atual internação:
Último hemograma — Hb 7,7 g/dL; Leucócitos 304.285/µL (mostrando aumento em comparação ao anterior); Plaquetas 277.800/µL. Presença de 4% de células atípicas (alterações morfológicas) compatíveis com blastos.
No hemograma da atual internação foram encontrados:
Blastos: 4,0%
Promielócitos: 1,0%
Mielócitos: 5,0%
Metamielócitos: 6,0%
Bastonetes: 8,0%
Segmentados: 64,0%
Eosinófilos: 2,0%
Basófilos: 5,0%
Linfócitos: 3,0%
Monócitos: 2,0%
Seguem as fotos de microscopia para estudo do caso:
Células presentes na LMC e a reação leucemoide
Leucemia Mielóide Crônica (LMC)
A LMC é uma neoplasia mieloproliferativa caracterizada pela produção excessiva e descontrolada de células da linhagem granulocítica, em diferentes estágios de maturação.
No hemograma e no esfregaço periférico é comum encontrar:
Neutrófilos segmentados em grande quantidade;
Bastonetes (neutrófilos jovens) em excesso;
Metamielócitos e mielócitos, que normalmente não aparecem no sangue periférico em indivíduos saudáveis;
Promielócitos ocasionais, e em fases mais avançadas até blastos podem estar presentes;
Basófilos e eosinófilos frequentemente aumentados, o que é uma pista diagnóstica importante;
Eritroblastos circulantes, em alguns casos, quando há disfunção medular mais intensa;
Plaquetas podem estar normais ou elevadas.
Essa mistura de células em diferentes estágios de maturação granulocítica é uma característica marcante da LMC.
Reação leucemoide
A reação leucemoide é um aumento reacional dos leucócitos, geralmente acima de 50.000/µL, em resposta a um estímulo não neoplásico, como:
Infecções graves (ex.: sepse, pneumonia);
Inflamações intensas;
Hemorragias extensas;
Uso de certas medicações (ex.: corticoides, fatores de crescimento hematopoiético).
No hemograma, pode lembrar a LMC, mas algumas diferenças ajudam a distinguir:
Predomínio de neutrófilos maduros, com poucos elementos jovens;
Ausência de basofilia persistente (ao contrário da LMC, onde basófilos costumam estar aumentados);
Fosfatase alcalina leucocitária (FAL) geralmente elevada na reação leucemoide, enquanto costuma estar diminuída na LMC;
Não há cromossomo Philadelphia nem mutação BCR-ABL.
Resumindo
Na LMC, há expansão clonal de células mieloides, com presença de todas as fases da granulopoese no sangue periférico, basofilia e eosinofilia associadas.
Na reação leucemoide, há apenas uma resposta transitória e reacional do organismo, sem mutação genética associada, com predomínio de neutrófilos maduros.
























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