Protocolo de Londres
- Carlos Wallace
- 3 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

O Protocolo de Londres é uma metodologia desenvolvida para investigar incidentes na área da saúde, oferecendo uma estrutura sistemática para identificar causas subjacentes e propor melhorias nos processos. Criado no final da década de 1990 por um grupo de pesquisadores do Imperial College London, este protocolo é amplamente reconhecido como uma ferramenta essencial para a segurança do paciente, por abordar fatores humanos, organizacionais e técnicos que podem levar a falhas no cuidado de saúde.
O Protocolo de Londres foi desenvolvido em resposta à crescente necessidade de investigar incidentes adversos na saúde com um enfoque mais abrangente. Até então, muitas análises eram restritas à busca de erros individuais, negligenciando aspectos sistêmicos. Inspirado na abordagem da engenharia de segurança, o protocolo baseia-se no modelo de Reason de "Queijo Suíço", que enfatiza que falhas ocorrem devido a uma combinação de fatores, incluindo erros humanos, falhas organizacionais e lapsos técnicos.
Estrutura do Protocolo de Londres
O protocolo é estruturado em etapas que guiam os investigadores desde a coleta de dados até a formulação de recomendações.
1. Coleta de Dados
A coleta de dados é a base de qualquer investigação bem-sucedida. O Protocolo de Londres recomenda:
Revisão de registros médicos e documentos relacionados ao incidente;
Entrevistas com todos os envolvidos, incluindo pacientes, familiares e equipes de saúde;
Observação direta do ambiente onde o incidente ocorreu.
2. Reconstrução do Evento
Com base nos dados coletados, os investigadores criam uma linha do tempo detalhada do incidente. Esse processo ajuda a identificar a sequência exata de eventos e a destacar os pontos críticos onde ocorreram falhas.
3. Identificação de Fatores Contribuintes
Os fatores contribuintes são divididos em categorias, como:
Fatores Humanos: Treinamento inadequado, fadiga, erros de julgamento.
Fatores Organizacionais: Comunicação deficiente, políticas ineficazes, falta de recursos.
Fatores Ambientais: Equipamentos mal projetados, condições físicas do local de trabalho.
4. Análise das Causas Raiz
Após identificar os fatores contribuintes, a análise das causas raiz é conduzida para determinar por que o incidente ocorreu. Ferramentas como o Diagrama de Ishikawa e os 5 Porquês são frequentemente empregadas.
5. Recomendações e Ações Corretivas
O relatório final deve incluir recomendações práticas e baseadas em evidências para evitar a recorrência de incidentes semelhantes.
Aplicação do Protocolo de Londres
1. Segurança do Paciente
O Protocolo de Londres é amplamente utilizado em programas de segurança do paciente, ajudando hospitais e outras organizações a identificar vulnerabilidades e implementar melhorias sustentáveis.
2. Capacitação de Equipes
A aplicação do protocolo exige treinamento específico, promovendo a cultura de segurança e capacitando equipes para abordar incidentes de maneira não punitiva.
3. Melhorias Sistêmicas
As investigações conduzidas com o Protocolo de Londres frequentemente revelam falhas organizacionais que vão além de um único incidente, levando à reestruturação de processos.
Impacto do Protocolo de Londres na Saúde
Hospitais que implementam o Protocolo de Londres reduzem significativamente incidentes adversos e melhoram a qualidade do atendimento. Ao adotar uma abordagem não punitiva, o protocolo promove uma cultura de aprendizado, na qual as equipes se sentem seguras para reportar erros e participar de melhorias. Abordando fatores sistêmicos, o Protocolo de Londres contribui para a eficiência operacional, eliminando redundâncias e melhorando o uso de recursos.
Desafios na Implementação
Embora eficaz, a aplicação do Protocolo de Londres enfrenta desafios como:
Resistência cultural à transparência e reporte de erros;
Falta de treinamento adequado para equipes investigativas;
Limitações de recursos financeiros e tecnológicos em ambientes de saúde mais restritos.
O Protocolo de Londres representa um avanço significativo na investigação de incidentes adversos, oferecendo uma abordagem estruturada e abrangente que transcende a simples atribuição de culpa. Sua aplicação permite que instituições de saúde fortaleçam a segurança do paciente, promovam uma cultura de aprendizado e alcancem excelência operacional. Ao investir na implementação desse protocolo, organizações de saúde demonstram compromisso com a melhoria contínua e a qualidade do cuidado oferecido.
Referências
REASON, J. Human Error. Cambridge University Press, 1990.
VINCENT, C.; TAYLOR-ADAMS, S.; STANHOPE, N. Framework for analysing risk and safety in clinical medicine. BMJ, v. 316, p. 1154-1157, 1998.
INSTITUTE OF MEDICINE. To Err Is Human: Building a Safer Health System. Washington, DC: National Academy Press, 2000.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Patient Safety: Investigating and learning from adverse events. WHO, 2005.
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